quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dois poemas de Palmyra Wanderley



Poema

Clara a manhã de ouro desfia
A meada de luz para tecer o dia.
Já a estrela da Alva tão formosa e boa
Terminara a tarefa de fiar,
Nas derradeiras flores de estiagem,
A toalha do altar,
Para a boda selvagem
Do cajueiro em flor e da lagoa...

Ao longe, os morros verdes,
Embebidos na luz da manhã cor de rosa,
Mostraram ao sol as flores da grinalda
Da noiva casta, linda e venturosa.


Aviador

Por ocasião da viagem aérea de Sacadura e Coutinho, de Portugal ao Brasil.

Alonga o voo. A imensidão recorta.
Domina assim o espaço, o Azul domina,
Já que o seio da terra não comporta,
O grandioso ideal que te fascina.

Sonha! Teu próprio sonho te transporta.
Acima de ti mesmo – Asas empinam!
Es quase um Deus! Ser homem pouco importa.
Se a conquista do céu, faz-se divina.

Sê como as águias. Voa nas alturas.
Transpõe o etéreo, as siderais planuras,
Da Via Láctea a célica mansão.

Sobe ainda mais, num frêmito inaudito.
- Percorre as cordilheiras do infinito.
Heroico bandeirante da amplidão.

Palmyra Wanderley nasceu em Natal em 6 de agosto de 1894. Foi uma das primeiras mulheres a deixar sua marca pelo jornalismo no Rio Grande do Norte, em trabalhos como a revista Via Láctea (editada em 1914). Publicou seu primeiro livro, Esmeralda em 1918; a este seguiu-se Roseira brava (1929). Escreveu peças de teatro como Festa das cores. Morreu no dia 19 de novembro de 1978.
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