quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Três poemas de Orides Fontela



ESCULTURA

O aço não desgasta

seus espelhos múltiplos
curvas
arestas
apocalíptica fera.

O aço não se entrega

e nem se estraga é
                                        forma 
– presença imposta sem signos

O aço ameaça

– imóvel 
com a aspereza total
de seu frio.

Ó forma

violenta pura
como emprestar-te algo
                                        humano
uma vivência um nome?


PARA FIXAR


Para fixar

a flor não nos serve o espaço
de pauta

ela des

liza pre
cede-nos
no horizonte duração
                      aberta
elaestrela nada
a fixa
mas elaflor nos fixa
em seu
voo

flor

que nos vive no puro
tempo


VIAGEM


Viajar
mas não
para

viajar
mas sem
onde

sem rota sem ciclo sem círculo
sem finalidade possível.

Viajar
e nem sequer sonhar-se
esta viagem.




Orides Fontela nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo, no dia 21 de abril de 1940. Publicou cinco volumes de poemas: Transposição, seu livro de estreia, em 1969; Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986) e Teia (1996). Considerada uma das mais importantes poetas da literatura brasileira da segunda metade do século XX, Orides deixou uma extensa variedade de poemas inéditos. Ela morreu em Campos do Jordão, São Paulo, em novembro de 1998. Em 2006, parte da sua obra foi reunida na edição Poesia Reunida