quinta-feira, 8 de março de 2012

Três poemas de Leonard Cohen



AMANTES

Foi no primeiro pogrom que eles
se encontraram, atrás das ruínas de suas casas – 
doces mercadores em troca: o amor dela
por uma História repleta de poemas.

E nos fornos quentes eles
conseguiram astuciosamente
dar um breve beijo antes que o soldado
extraísse o dente dourado dela.

E dentro da fumaça,
enquanto as chamas subiam,
tentou beijar seus seios fumegantes,
enquanto ela queimava no fogo.

Depois se perguntaria:
será que o escambo foi completado?
enquanto o espancavam
e sabiam que ele tinha sido enganado.


CELEBRAÇÃO

Quando você se ajoelha para mim
E segura em ambas as mãos
O cetro da minha masculinidade,
Quando você enrosca sua língua
Na jóia de âmbar
E pede a minha benção,

Entendo aquelas garotas romanas
Que dançavam ao redor da fonte de pedra
E a beijavam até ela ficar quente.

Ajoelha-te, meu amor, mil pés abaixo de mim,
Até não poder ver mais tua boca e tuas mãos,
Realizar a cerimônia,

Ajoelha-te até eu alcançar tuas costas
Com um grunhido, como aqueles deuses no teto
Que Sansão ajudou a desmoronar.


ASSIM COMO A NEBLINA NÃO DEIXA MARCAS

Assim como a neblina não deixa marcas
Na colina verde-escura
Meu corpo também não deixa marcas
No seu, nem nunca deixará.

Quando vento e uivo se encontram,
O que sobra?
Assim é o nosso encontro,
Depois nos viramos, e pegamos no sono.

Assim como há noites que ficam
Sem lua, sem estrela,
Assim ficaremos
Quando um de nós tiver partido.

* Traduções de Martins Vasques da Cunha