domingo, 2 de junho de 2013

Dois poemas de Ana Cristina Cesar




fevereiro

Quando desisto é que surges
Quando ruges é que caio.
Quando desmaio é que corres
Quando te moves me acho
Quando calo me curas
E se misturo me perco
                           (assobia!)

Sete Chaves

Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas
como um marechal do ar fazendo alegoria.
Estou tocada pelo fogo.
Mais um roman à clé?
Eu nem respondo.
Não sou dama nem mulher moderna.
Nem te conheço.
Então:É daqui que eu tiro versos,
desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda,seus três
monumentos pátrios,e passa o ponto e as luvas.



Ana Cristina Cesar nasceu no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952. Um dos nomes mais da chamada Geração Mimeógrafo, destacou-se entre os poetas brasileiros da geração de 1970. Escreveu prosa, poesia e traduziu para o português importantes nomes da língua inglesa como Emily Dickinson, Sylvia Plath e Katherine Mansfield. Publicou Cenas de abril e Correspondência poética (1979), Luvas de pelica (1980), A teus pés (1982); postumamente vieram Inéditos e dispersos (1985) e a publicação da poesia completa, Poética, em 2015. Na prosa, publicou Literatura não é documento (1980); e Crítica e tradução (1999), póstumo. Ana C., como se assinava, morreu no dia 29 de outubro de 1983.