terça-feira, 12 de agosto de 2014

Dois poemas de Souzalopes




as mulheres são amadas na exata
terra da palavra água seu sol e
sua fala rio mais veloz o fo
go mais voraz a fera mais fera
garras de areia e dentes
de maré-cheia: chão

amor se amarra márcia de cabeça pelo avesso
no seco ou sob água ou onde roce o pelo ou seja
amor o corpo sempre e sempre o corpo
chama o corpo márcia amor é cego e louco
cego como fogo amor é todo pouco e sem
amor o mundo não se move a vida não revém

se vem a onda márcia ou uma onça passa onde eu
estou antes vivo ou morto e solta um osso meu
depois de morto ou vivo e diz o sonho a unha ou a
marra a palavra aranha diria arranha digo a
garra que é amor que fala é manha

quero palavra márcia que amor se faça
de nervo e osso e todo corpo como me fazes
amor quando entro e mais me invento
palavra no teu mais dentro e mais me faço
caminho de fala e água que amor me tragas

amor parece palavra márcia muda e emudece
o que a fala esconhece e a gente se pega
de unhas se pega de dentes e dedos e duas
mãos onde o mar onda e desonda palavra e amor
se pega pelos pés pelos cabelos e pelos e
no coração do corpo e onde mais maduraflor

meu pênis te penetra márcia melhor dizer
como nessa mesa-cama tua carne boa e brava ou
falando mais claro ponho meu pau na tua
buceta nua e crua alga de brasa e lua e
na água da palavra te falo como só amor re
volta a fala e fala o que mais claro calo

* de todo fogo

um dia ainda digo poesia
minha palavra de outra
um dia nunca será minha

porque poesia é cobra
a língua da cobra
é uma cobra e duas cobras


* de hágua

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