domingo, 25 de janeiro de 2015

Dois poemas de Saúl Dias



JARDIM

Jardim
no outono desbotado.

Dispersas pelo chão
as folhas são
losangos de Arlequim
com laivos de purpurina.

Uma doirada neblina
paira no ar parado.

E, a um canto,
esquecido num banco,
o chapéu entrançado
de Colombina.


ENCONTRO

Encontro-te
sempre na mesma rua
(a ti ou à tua sombra?),
despertando
mil quimeras
candentes,
remexendo as cinzas quentes
de outras eras.

Ora vens nua,
ora vestida.
Mas, sem ti, a rua
não existiria,
aniquilada
- como um navio morto
num esquecido porto.

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