sábado, 8 de agosto de 2015

Um poema de José Lezama Lima



UMA OBSCURA PRADARIA ME CONVIDA

Uma obscura pradaria me convida,
seus mantos estáveis e cingidos,
giram em mim, em meu balcão adormecem.
Dominam sua extensão, sua indefinida
cúpula de alabastro se recria.
Sobre as águas do espelho,
breve a voz em meio a cem caminhos,
minha memória prepara sua surpresa:
o gamo no céu, rocio, labareda.
Sem sentir que me chamam
penetro na pradaria devagar,
ufano em novo labirinto derretido.
Ali se vêem, ilustres restos,
cem cabeças, cornetas, mil alaridos
abrem seu céu, seu girassol calando.
Estranha a surpresa neste céu,
onde sem querer voltam pisadas
e soam as vozes em seu centro enchido.
Uma obscura pradaria vai passando.
Entre os dois, vento ou fino papel,
o vento, ferido vento desta morte
mágica, una e despedida.
Um pássaro e outro já não tremem.


* Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros 

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