sábado, 18 de abril de 2015

A simplicidade de Cora Coralina



MEU EPITÁFIO

Morta... serei árvore
Serei tronco, serei/ronde
E minhas raízes
Enlaçadas às pedras de meu berço
São as cordas que brotam de uma lira

Enfeitei de/olhas verdes
Apedra de meu túmulo
Num simbolismo
De vida vegetal

Não morre aquele
Que deixou na terra
A. melodia de seu canto
Na música de seu verso.


CONSIDERAÇÕES DE ANINHA

Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos


ANINHA E SUAS PEDRAS

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina nasceu na cidade de Goiás, antiga Villa Boa de Goyaz no dia 20 de agosto de 1889. Poeta e contista brasileira de prestígio, tornou-se um dos marcos da literatura brasileira. Iniciou sua carreira literária aos 14 anos com o conto “Tragédia na roça” publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Casou-se com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas e teve seis filhos. O casamento a afastou de Goiás por 45 anos. Ao voltar às suas origens, viúva, Cora Coralina iniciou uma nova atividade, a de doceira. Além de fazer seus doces, nas horas vagas ou entre panelas e fogão, Aninha, como também era chamada, escreveu a maioria de seus versos. Publicou o seu primeiro livro aos 76 anos de idade e despontou na literatura brasileira como uma de suas maiores expressões na poesia moderna. Em 1982 – mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao 2º ano do Ensino Fundamental – Cora Coralina recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás e o Prêmio Intelectual do Ano, sendo, então, a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato. No ano seguinte foi reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO. Morreu em Goiânia em 10 de abril de 1985.