sexta-feira, 24 de abril de 2015

Dois poemas de Ascenso Ferreira



NANA, NANANA

Sentes que a minha vida é um rio caudaloso,
tomado do delírio das enchentes,
correndo alucinado para o mar!
E te assombras, com medo dos abismos,
onde as águas nos seus loucos paroxismos
te possam arrastar...

No entanto, sobre a flor dessas águas tempestuosas,
leve com as espumas vaporosas,
hás de sempre boiar...

Sentindo a sensação deliciosa
de que as águas arrogantes, tumultuosas,
estão cantando para te ninar.


MISTICISMO

Na paisagem da rua calma,
tu vinhas vindo… vinhas vindo…,
e teu vestido era tão lindo
que parecia que tu vinhas envolvida na tu’alma…
Alma encantada;
ama lavada
e como que posta ao sol para corar…
E que mãos misteriosas terão feito o teu vestido,
que até parece o de Maria Borralheira,
quando foi se casas…!
─ Certamente foi tecido
pelas mãos de uma estrela fiandeira,
com fios de luz, no tear do luar…
no tear do luar…
O teu vestido era tão que parece o de Maria Borralheira
quando foi se casar…
─ “Cor do mar com todos os peixinhos…!
─ Cor do céu com todas as estrelas…!
E vinhas vindo… vinhas vindo…
na paisagem da rua calma,
e o teu vestido era tão lindo

que parece que tu vinhas envolvida na tu’alma…